sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

PORTUGUÊS TRUNCADO...

Repare como profissionais de cada área modificam o uso das palavras e expressões da língua portuguesa, transformando- a aleatoriamente. Muitas vezes, trata-se de modismos ou vícios de linguagem praticados por certos grupos durante um determinado período. Os 'reis' da deturpação idiomática são os profissionais da área de Comunicação, em especial os publicitários. Mas há outros que também contribuem bastante para o nosso 'caos lingüístico' (desculpem, mas ainda não consegui abolir o trema).






Eis uma pequena lista:





- Uso abusivo do gerúndio, em especial, por parte dos profissionais de 'telemarketing' : "O sr. vai estar recebendo"; "Nós vamos estar enviando a fatura" ... "O sr. vai poder estar assistindo", etc. - evidentemente, trata-se de uma cópia inusitada do Inglês, no qual é comum usar-se os tempos contínuos (I'll be visiting you tomorrow).




- Uso do verbo 'fazer', no sentido de 'apresentar' "O paciente fez uma hepatite"; "O paciente fez uma cirrose" ... (profissionais da área médica) Obs.: A hepatite é uma deficiência do fígado, logo, ninguém em sã consciência 'faz uma hepatite ou cirrose'.




- Uso do verbo 'fazer', no sentido de 'tocar': "Agora vamos fazer o Brasileirinho" (músicos populares) Obs.: É uma parceria com o compositor? Será que ele sabe disso?



- Uso abusivo da palavra 'conferir': "Confira a nossa programação"; "Confira nossas promoções"; "Confira no jornal da noite" (jornalismo e publicidade) Obs.: Viramos todos conferentes, agora?




- Abolição dos verbos pronominais: "Ele aposentou."; "Como é que você chama?" (de uso freqüente por profissionais de várias áreas, muito disseminado pelas televisões paulistas). Obs.: Repare na diferença entre chamar alguém e chamar-se, aposentar alguém e aposentar-se. A existência do verbo pronominal não é supérflua.

- Uso freqüente das palavras 'releitura', 'repaginar', 'revisitar' e 'debruçar-se' por profissionais da área da cultura: "A peça é uma releitura de Brecht"; "Uma versão repaginada de Weber"; "Agora, vamos revisitar Machado"; "Debruçando-nos sobre a obra de Leonardo Da Vinci"...



- Uso de palavras e expressões ininteligíveis ou inacessíveis para pessoas leigas, em noticiários e textos jornalísticos: "alta com viés de baixa"; "estagflação"; "choque de gestão"; "rodada de Doha"; "cimeira", "crise da bolha imobiliária americana", etc.


- Invenção livre de palavras, por parte de profissionais do 'marketing'. Ex: "A refrescância da menta" (não há tal palavra em nosso vocabulário, e sim 'frescor'); "A crocância do biscoito"(inexistente) ; "A indústria automotiva" (idem); "Uma lavadora Brastemp" (no lugar de 'máquina de lavar', expressão já consagrada e existente).




- Uso de gírias (ou palavras importadas do Inglês), divulgadas por profissionais dos grandes meios em programas, comerciais e novelas: "agito"; "barato"; "galera"; "radical"; "chocante", "demorou"; "maneiro"; "popozuda"; "rave"; "system" (geralmente falado 'sistéin');"game"; "program", "resort", "shake", etc.




- Uso indiscriminado e desnecessário de palavras inventadas ou copiadas do Inglês, no mundo da computação eletrônica: "inicializar" (no lugar de 'iniciar'); "deletar" (no lugar de 'apagar'); "reset" (no lugar de 'religar'), "fazer um download" (no lugar de 'baixar'); etc.



Obs.: O que estamos fazendo com o nosso idioma? Até quando, Catilina ... abusarás da nossa paciência!



Flávio Prieto

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