Hoje estreou “Maysa – Quando fala o coração”. Aguardei com grande ansiedade. Lembro bem de Maysa, de sua voz, de seu rosto expressivo. E de ouvir minha mãe cantando Ouça, Meu Mundo Caiu, e tantas outras.
Era uma mulher bonita.Uma beleza singular. E um olhar triste, meio que vazio e distante, próprio de quem desafia os padrões sociais de uma época e faz sucesso, mas que paga um preço caro pela ousadia de ser corajosa e se rebelar contra todos os conceitos e preconceitos de uma sociedade hipócrita e retrógrada. Quando ela morreu, eu tinha 20 anos. Isso foi em 1977, e ainda me recordo da notícia do acidente fatal na Ponte Rio-Niterói.
A história de Manoel Carlos começa justamente mostrando o último de sua vida. Daí em diante, se o espectador não estiver atento, se perde. Toda atenção é pouca, mas, a julgar pelo primeiro capítulo, parece que vale a pena. A série, de autoria de Manoel Carlos, é protagonizada pela estreante atriz Larissa Maciel, e dirigida por Jayme Monjardim, filho da cantora. André Matarazzo, de 10 anos, e Jayme Matarazzo, 22, netos de Maysa e filhos de Jayme Monjardim, interpretarão o pai no seriado.
Quem foi Maysa?
De família tradicional do Espírito Santo, Maysa nasceu na capital paulista. O pai era boêmio, e por isso a família da mãe era contra o casamento. Resultado: fugiram para a cidade maravilhosa e se casaram. Pois é....Depois foram para Bauru, voltaram para sampa, foram de novo para a cidade maravilhosa e ainda para vários outros lugares.
Apesar de estudar nos tradicionais colégios paulistanos Assunção, Sacré-Cœur de Marie e Ginásio Ofélia Fonseca, Maysa sempre foi rebelde e chegava a comparecer às aulas sem uniforme e com trajes ousados para a época. Claro que ela era impedida de frequentar as aulas. Seus estudos se limitaram à segunda série ginasial, o que corresponde, nos dias de hoje, à 6ª. Série (ou 7º ano).
Aos dezessete anos se casou com o empresário André Matarazzo, dezessete anos mais velho, amigo de seus pais, e membro da conhecida família italo-brasileira Matarazzo. Da união nasceu Jayme Monjardim Matarazzo, diretor de telenovelas e cinema, criado pela avó e que mais tarde estudou num colégio interno na Espanha. Por complicações com o parto, Maysa não poderia mais ter filhos.
Em 1959 se separou do marido. André não aceitava a carreira musical da mulher e a boemia herdada do pai. Livre, leve e solta, Maysa teve casos ardentes com o compositor Ronaldo Bôscoli, o empresário Miguel Azanza, o ator Carlos Alberto, o maestro Julio Medaglia, entre vários outros.
Com uma carreira de sucesso, Maysa fez muitas temporadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de várias excursões pela América Latina e apresentações em Paris, Lisboa e Luanda. As composições e as canções foram escolhidas de maneira a formar um repertório sob medida para o seu timbre, que não era o de uma voz vulgar -- pelo contrário, possuía um viés melancólico e triste, que se tornou emblemática do gênero fossa ou samba-canção. As interpretações de Maysa eram sempre fortes e marcantes. Maysa cantava com a alma, com uma intensidade que era difícil de se ver na época e que, praticamente, inexiste nos dias de hoje.
O abuso do álcool e de moderadores de apetite pioravam seu temperamento forte e instável, causa de vários escândalos em hotéis e aviões de diversos países. Corre em “bocas de Matildes” que ela tentou suicidar-se várias vezes. Supõe-se que o efeito de anfetaminas, somado à ingestão de álcool, teria provocado o acidente quando dirigia sua "Brasilia azul" em alta velocidade na Ponte Rio-Niterói mas, pelo que se viu no primeiro capítulo da série, Maysa estava sem beber e consumir anfetaminas há um bom tempo quando sofreu o acidente fatal.
Bem, pretendo seguir esta série global. Aprecio os textos de Manoel Carlos, aprecio o trabalho de Jayme Monjardim, e gosto de boa música, boa voz e de mulheres ousadas, irreverentes e que, desafiando a tudo e a todos, conquistam o sucesso. Como Maysa, Chiquinha Gonzaga, Leila Diniz e tantas outras. Só assim para eu ficar ligada na telinha, que dirá na "poderosa"! Porque de resto, nada presta! Que venham os próximos capítulos! E eu vou comentando...Portanto, até breve, ou melhor, até o próximo capítulo...
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