O Brasil é um país pacífico. Não ameaça ninguém e nem é ameaçado. Durante anos, isso nos foi dito e repetido tantas vezes que houve quem acreditasse na assertiva. A História contribuiu para isso. Só não reconhecíamos o óbvio: o que nos deixava a salvo de ataques não era a nossa simpatia, mas sim era a nossa absoluta desimportância dentro do contexto político-estratégico internacional.
Só que isso mudou. A atual crise financeira que está redesenhando o capitalismo mundo afora é apenas uma - e certamente a menor - das crises que se prenunciam nesse início do século XXI. Outras quatro estão por vir. E, em todas elas, a solução passa pelo Brasil.
A primeira delas é a crise de energia. Até recentemente importador de petróleo, hoje nosso país destaca-se no cenário internacional não apenas pelas suas imensas reservas recém-descobertas do pré-sal. Temos também enormes reservas de Urânio. Detemos tecnologia de ponta, solo e climas perfeitos para nos tornarmos os maiores produtores de biocombustíveis.
A segunda grande crise é a da água. Motivo de guerras na África e no Oriente Médio, ela já começa a escassear nos países ricos. No Brasil, ela é abundante.
A terceira grande crise, associada ao problema da água, é a crise dos alimentos. Nesse ponto, novamente a solução passa pelo Brasil, o "celeiro do mundo".
Finalmente, a quarta grande crise do século XXI: a do meio ambiente. Uma vez mais, o Brasil e a Amazônia, "pulmão do mundo", ocupam papel central nesse debate, em que a tese de internacionalização de nossas florestas ganha adesões a cada dia.
Cada uma dessas crises realimenta as outras e é por elas realimentada. Não se trata de paranoia de militar. Vivemos um claro deslocamento do polo estratégico mundial para o Atlântico Sul. E o Brasil, por todas as condições já mencionadas, encontra-se no foco das atenções.
Por isso tudo, vem em boa hora a "Estratégia Nacional de Defesa" pelo governo federal, que percebeu a importância de recuperar nossas Forças Armadas e construir uma sólida base militar. Isso só será possível se houver, de fato, políticas que fortaleçam a indústria nacional de defesa - estatal e privada -, que, por sua vez, deve trabalhar em conjunto com as universidades e os centros de pesquisa para o desenvolvimento da nossa própria tecnologia para que não dependamos do conhecimento de quem pode se tornar hostil no futuro.
O poder militar não é um luxo, mas uma necessidade. Se vamos utilizá-lo ou não, pouco importa. Mas só poderemos verdadeiramente descansar quando tivermos a certeza de que, se preciso for, estaremos preparados para o que der e vier.
* Armando Vidigal é professor do Centro de Estudos de Política e Estratégia da Escola de Guerra Naval.
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