quarta-feira, 23 de abril de 2008

COM GOSTO DE SINCERIDADE...

por Seu Pedro (*)
Se há algo que me gratifique é que uma pessoa me diga a verdade, que a sinceridade seja a principal meta. Já me separei de um casamento, não por ter descoberto alguma traição – se houve foi bem dissimulada. Mas as pequenas mentiras, somadas, deixam de ser pequenas.

Por exemplo: “você comprou fiado no armazém?”. A resposta é: “não”, logo desmascarada pela notinha que vem à minha porta. Que diferença faz? Mas isto é peremptório em algumas pessoas, vem de dentro a mentira. Quanto ao casamento, separei por prevenção, pois sempre perguntei: “você me trai?”. E vai que um dia a conta do motel chega lá em casa.
O gostoso é você sentir que as pessoas que o cercam falam tudo, com a certeza de que você pode confiar. Claro que existem alguns segredos, femininos e masculinos, é evidente que acho a vizinha bonita, mas não digo porque não sei se as pessoas, e o próprio marido dela, vão entender que se achar algo bonito não e sinônimo de tê-lo. Pode até se desejar, mas...
Lembro do dia em que passei na porta de um restaurante de luxo. Pela vitrine, vi um magnata sendo servido por um elegante garçom. Era um pernil lindo. Lambi os beiços com vontade de comer. Como acontece quando vejo a vizinha, fico com fome e na mão.
Assim como cobro a honestidade da palavra, dou meios para que as pessoas cheguem, sem medo, perto de mim e contem seus problemas, sem censuras, só com conselhos. Com dois anos, uma filha, com onze anos hoje, correndo pela casa, chegou para mim e minha esposa e disse: “Queblei, queblei o tador do papai”.
Imaginávamos que teria derrubado o computador e ele havia se espatifado. Ainda bem que havia sido o ventilador! Fomos ver o acidente, removemos os cacos, ela nos ajudou. Uma semana depois: “queblei, queblei o tador do pai”. E, desta vez, era realmente o computador. Mas não houve receio de contar.
Assim a vida é melhor. Nada de brigas se houver alguma confissão não esperada. No máximo, será cada um para seu lado. É desgastante ficarmos anos escondendo uma verdade, ou a esperando, em vão. Um lar não pode ser movido a mentiras, nem uma amizade alimentada em uma mesa de bar com a conta preferencialmente minha. Claro que estarão mentindo se os que ali estão me disserem que são meus amigos. Pelo que escrevi, até agora, é fácil notar que também não gosto de alguém puxa-saco. O meu saco é carregado por mim mesmo.
Aí, foi assim que no hospital da capital, a novecentos quilômetros da cidade onde está a minha casa, pronto para uma operação de coração, tive que relutar para que a enfermeira me entregasse um bilhete, mandado para mim, via um portador, tendo como destinatário um compadre meu, lá da roça: “cumpadi, ôce me perdoa, mas meu dinheiro num dá pra visita ôce no hospitar. Mas uma coisa eu te agaranto: ao enterro num deixo de ir!” Quer maior consolo que este? A certeza de uma amizade sincera!
(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, DRT-398/BA, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi Bahia... É jornalista investigativo, escritor, poeta, e adepto do humor. Também conhecido como “Jornalista do Sertão”.

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