Será que eles têm mesmo razão? “A gente quer comida, diversão e arte...”. Do que mais você tem fome e sede? A partir de louváveis iniciativas, a nossa região das Agulhas Negras vem ratificando os versos dos titãs Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sergio Brito em sua canção “Comida”.
É preciso acabar de vez com o preconceito de que o povão tem aversão a teatro, concerto, recital, balé, ópera, sarau literário, artes plásticas e outros eventos rotulados de eruditos. Na verdade, os governantes, aliados aos exploradores culturais, no caminho mais fácil do lucro político ou financeiro, cruelmente oferecem aos súditos os alimentos menos requintados e de sabor duvidoso. E tome cultura de massa, enlatada, industrializada, para o povo marcado, feito gado, como diz o compositor paraibano Zé Ramalho.
Nem tudo está perdido! Em Resende, o “Câmara Cultural” é um dos grandes exemplos a ser seguido pelos poderes públicos. Com tão pouco recurso e uma grande dose de seriedade e competência, a equipe que cuida desse projeto tem feito muito nos últimos anos. E boa parte do que faz com a participação de talentosos artistas da ONG Oito Deitado. Ainda na “princesinha do vale”, anualmente, vem ocorrendo o precioso festival de teatro. E agora, mais um projeto da Fundação Casa da Cultura Macedo Miranda, a “Rua da Música”, em um cenário perfeito à beira rio para se curtir excelentes talentos da região. E o público se deleita. E lamenta o tempo perdido, sem provar tão saborosos frutos.
Em Quatis, o projeto “Canta, Quatis!” encanta a todos pela oportunidade de apreciar e de participar ativamente da cantoria em praça pública. Ainda nesta “cidade hospitaleira”, há mais de dois anos o “Feira da Roça com Arte”, uma parceria da Associação da Feira da Roça com o Espaço Cultural Recanto 21. Em breve, diga-se de passagem, esse projeto será transformado em Ponto de Cultura com o patrocínio dos governos Federal e Estadual.
Já em Itatiaia, boas notícias nos chegam. É um sucesso o projeto “Arte na Praça”, integrando todas as manifestações artísticas e estimulando novos talentos.
Quanto a Porto Real, o nosso reconhecimento aos trabalhos desenvolvidos pela Associação Vittorio Emmanuele II e pela Fundação Porto Real. Com o apoio da prefeitura e de empresas ali sediadas, vêm resgatando a sua origem cultural e fortalecendo os laços de fraternidade na comunidade, com arte culinária, danças e costumes típicos.
Voltando a destacar a equipe do projeto Câmara Cultural de Resende, é muito louvável a sua iniciativa de trazer recentemente o I Festival de Teatro das Agulhas Negras (FESTAN – 2009). Que se torne uma prática rotineira pelo menos anual. Uma realização do conceituado Instituto Cultural Cidade Viva, com recursos da Lei de Incentivo à Cultura e apoio das quatro prefeituras e do jornal Folha Fluminense, sendo patrocinado pela Volkswagen Caminhões e Ônibus, essa atividade cultural veio fortalecer o nosso sonho de criar o CODECAN – Consórcio de Desenvolvimento Cultural da Região das Agulhas Negras. Sonho que os amantes da cultura dos quatro municípios sonhamos juntos em inúmeras reuniões nos últimos dois anos, com o apoio do SEBRAE e do SENAC. A idéia ainda não foi concretizada, mas continua viva em nossos corações e mentes. O CODECAN, entre outras, teria essa função de somar esforços, e parcerias, em benefício da cultura regional.
Por tudo isso, estamos esperançosos de que dias ainda melhores virão nas atividades culturais de nossa região. São excelentes e promissores os resultados de todas essas ações. Que os nossos governantes se conscientizem de que arte, cultura, esporte e lazer trazem conseqüências positivas para a educação e para a saúde do povo. Muitas vezes pejorativamente chamado “povão”, a gente quer mais é saciar a fome e a sede de cultura de melhor qualidade.
A cultura alimenta a alma e transforma autômatos da sociedade de consumo em pessoas conscientes, críticas e autônomas. “A gente não quer só comida... a gente quer comida, diversão e arte... a gente quer por inteiro e não pela metade” – Titãs.
Guido de Castro
Integrante do Comitê de Criação do CODECAN
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