Em resumo, uma resposta bem pós-moderna. Esta coisa de que tudo é arte é ligada a uma visão "relativista" de cultura, ligada ao pós-modernismo, na arte, ao Marcelo Deschamps e seu bidê.
Alio-me à Dali (um modernista, portanto, um transgressor dos padrões clássicos) que atacava a cultura "pós-moderna" em arte, denunciando- a como não arte. A arte é aquilo que transcende o cotidiano. Num mundo onde todos são "artistas", ninguém é artista.
Todos tem seus quinze minutos de fama no estilo big brother "democrático" de fazer cultura.
Falaram de vários motivos para que o funk fizesse "sucesso" fora das favelas. Esqueceram da principal, a indústria cultural. Ora, desde que o artista é partícipe de uma indústria desenfreada do lucro, tudo, por mais cretino e de baixo nível cultural que seja, pode e deve ser vendido.
É a cultura fungível. Assim, não é só o funk de baixíssima qualidade artística sim, é o breganojo (nada a ver com a música sertaneja que tinha qualidade), o axé bunda music, o samba mauriçola, e tudo aquilo que possa ser jogado no lixo no dia seguinte.
Para este tipo de cultura, música de boa qualidade não serve, Cartola e Pixinguinha não podem ser ouvidos hoje e esquecidos amanhã, como Lacraia e Gaiola das Popozudas.
Outra grande falácia, MENTIRA GROSSEIRA, é a comparação com o samba. O funk de hoje é o samba de outrora. Mentira grosseira. Primeiro pela origem, o samba enfrentou preconceito de cor e religioso, não só saiu das favelas, saiu dos terreiros de umbanda, tem estreita ligação com sua matiz africana.
O funk não tem nada da preservação desta raiz cultural, pelo contrário, é música americanizada que na origem, no estilo e na sua pregação apela para o pior América Way of life, como se as favelas do Rio fossem o Brooklyn.
Era como Candeia denunciava no seu samba.
É uma bobajada comparar a garotada que faz funk com os grandes sambistas. Estes tinham EXTREMO COMPROMISSO COM A QUALIDADE ARTÍSTICA. Veja, não estou falando de educação formal, isto não tem nada a ver. Cartola não tinha nenhuma e é um dos maiores letristas brasileiros. Agora, suas composições artísticas são de uma complexidade que formandos em música não conseguem tocar muitos de seus complicados arranjos.
E por aí vai, Paulo da Portela, Manacea, Alvaiada, Mijinha, Dona Ivone Lara (esta, aluna de Villas Lobos, mas não dotada de formação cultural formal), Candeia (este chegou a ser inspetor de polícia), Geraldo Pereira, Herivelton Martins, etc. Qual a grande formação deste povo? Eram pessoas sem "cultura formal", todavia, a riqueza harmônica de suas composições é inegável.
Não são bons por que vieram da pobreza, são bons por que são bons, sobre qualquer análise crítica mais complexa.
E os Bonde do Tigrão da vida? São ruins de doer.
O funk não recupera a auto-estima do morro, ao contrário do que foi falado. As letras das músicas não falam de um universo em que a entoa e inserido socialmente, ele fala de alguém que aceitou ser "submundo".
As mulheres? São as cachorras, as vadias, as amantes. Dako é bom, Dako é bom...Canta a "belíssima" letra de um dos "ícones" desta grande manifestação artística.
As pessoas confundem reivindicações justas (que os funkeiros tenham todo o direito de cantar suas músicas, inclusive respeitando o espaço alheio - o que as vezes é raro), com a defesa de que funk tem qualidade.
É manifetação cultural? Depende, lato sensu, é, tudo é manifestação cultural, até o rabisco da minha filha no caderno dela da quarta série. Stricto sensu, como manifestação artística que transcende o cotidiano e consegue traduzir o belo ou o horrendo de maneira sintética e estilisticamente elaborada? Aí, duvido.
Toda liberdade para o funk, desde que me avisem antes onde vão tocar, para que eu possa passar bem longe de onde estiverem tocando música de tão péssima qualidade.
Escrito por Roberto Ponciano
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