sábado, 19 de setembro de 2009

DESABAFO MUSICAL

Festival de Música no interior do Estado do Rio de Janeiro: “se você tem um grupo de pagode, forró ou qualquer outro ritmo, inscreva-se no ....”. Pois é. O que fazer? Enquanto algumas pessoas e raríssimas emissoras de TV e rádios FM, como JB, Globo e MEC, por exemplo, “lutam” e trabalham para levar o mínimo de cultura musical ao povo, uma emissora local promove um “Festival de Música” com uma chamada desse nível. Existe esperança?





Gilberto Gil



Quem viveu a época dos grandes Festivais, com certeza sente saudades. Acirradas competições entre grandes compositores e intérpretes levavam o público ao delírio. Melodia, harmonia, letra, interpretação. Estilos e gêneros variadíssimos. E a torcida comparecia em massa. Mas, o indiscutível, era a imensa (e intensa) qualidade musical dos talentos revelados em todos os festivais. Milton Nascimento, Ivan Lins, Chico Buarque, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Taiguara, Gilberto Gil, Danilo Caymmi, Jorge Ben, Djavan, Eduardo Dusek, Caetano Veloso, João Gilberto, Paulinho da Viola, e tantos outros. Intérpretes como Maria Bethânia, Elis Regina, MPB 4, Gal Costa, Rita Lee (Os Mutantes), Beth Carvalho, Leila Pinheiro, Clara Nunes, Emílio Santiago e, até mesmo, Sandra de Sá. Músicas como Travessia, Andança, A Banda, Ensaio Geral, Alegria, Alegria, Domingo no Parque, Ponteio, Roda Viva, Arrastão, Divino Maravilhoso, Helena, Helena, Helena, Pra não dizer que não falei de flores, Verde, Nostradamus, e por aí vai. E tudo isso, entre a renúncia de um presidente e o fim da ditadura militar.





Elis Regina



Os festivais eram um acontecimento para os jovens e adultos da época. Para o Brasil. A extinta TV Excelsior produziu o primeiro festival de Musica Popular Brasileira. A TV Record, em São Paulo, promoveu grandes e inesquecíveis festivais. E depois vieram os festivais no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, promovidos primeiro pela TV Rio e em seguida pela TV Globo. Sem esquecer o da TV Tupi, em 1979, que revelou Oswaldo Montenegro, com “Bandolins”, apesar de ter ficado em terceiro lugar. Um ano depois, ele seria primeiríssimo lugar interpretando “Agonia”, no MPB 80 da TV Globo, que também revelou Dusek. Anos 80. Época de Purpurina, Planeta Água, Escrito nas Estrelas, Verde. Sem os festivais, provavelmente a maioria desses grandes talentos revelados seria desconhecida. Fato é que muitos ainda estão compondo e cantando, para alegria e deleite dos que apreciam música de verdade.











Na atual conjuntura, ouvir um Chico Buarque, um Ivan Lins, um Danilo Caymmi, é pura benção. O atual cenário da MPB reflete desolação. A verdade é que estamos abandonados, entregues à pobreza e à mediocridade das letras e da total ausência de melodia e harmonia dos axés, forrós, funks e pagodes. E podemos chamar isso de MPB? Pois é.




Caetano, Gil e Os Mutantes




Estamos carentes, totalmente desprovidos de compositores e intérpretes de verdade, talentosos, sensíveis e criativos. A pergunta que não quer calar: por onde andam os Chicos, Ivans, Djavans, Caetanos, Caymmis, Taiguaras, Vandrés, Gonzaguinhas, Boscos, Jobins, Moraes e tantos outros? Por onde andam as Bethanias, Elis, Lees, Joices, Leilas? Os Emílios, Oswaldos, Tunais, Venturinis e tantos outros? Saídos dos grandes festivais ou não.




Chico Buarque e MPB 4



Talvez uma reedição dos grandes Festivais consiga revelar alguns talentos nesse imenso Brasil. A Record pode e deve pensar no assunto. Afinal, ela foi pioneira em festival de música. E a Globo, que inegavelmente também revelou grandes talentos produzindo festivais de MPB, poderia abdicar de tanta futilidade e cultura inútil e encarar a realidade da penúria musical que assola o país, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Isso dá IBOPE! Mas, um festival de verdade. Com um júri de verdade, composto por maestros, arranjadores, compositores, letristas. Gente que conhece música. Que faz música de verdade. Só assim os compositores e intérpretes de talento serão revelados. Só assim, poderemos recuperar a qualidade da nossa Música Popular Brasileira. Ou sucumbiremos ao caos que se apresenta. Ao vazio.



Nice Pinheiro

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