A polêmica em torno da decisão do Supremo Tribunal a respeito das pesquisas com as células-tronco está gerando uma imensa expectativa em todos que são a favor e aos que necessitam, dramática e urgentemente, de uma decisão favorável para poderem voltar a viver com dignidade, pois somente as células-tronco poderão resolver problemas impossíveis de serem solucionados sem as mesmas. Transcrevo aqui alguns trechos do artigo de Pedro do Coutto, publicado no dia 6 deste mês no Tribuna da Imprensa. Como se pode ser contra?
...O presidente Lula, assim, teve total razão em se pronunciar pessoalmente a favor da ciência e do progresso, da mesma forma que, segundo o Ibope, três quartos da população brasileira. Claro. Impedir o avanço de pesquisas científicas? Absurdo total. Aceitar os fragilíssimos argumentos do advogado Cláudio Fonteles, ex-procurador geral da República, significa defender o retorno do universo à era das cavernas, à era das trevas como a que, há muitos milênios, antecedeu a descoberta dos sentidos, da inteligência, da razão. Do processo que conduz ao movimento eternamente evolutivo da humanidade.
Bem, aproveitando a oportunidade, acredito que se o advogado Cláudio Fonteneles tivesse filho em cadeira de roda ou necessitando de algum tipo de transplante para poder correr, brincar ou simplesmente viver com dignidade e usufruindo do prazer da vida, certamente sua posição sobre o assunto seria outra. Talvez ele fosse um defensor ferrenho das pesquisas com células-tronco , sabedor que somente elas livrariam seu filho da dor e da imobilidade. Mas vamos adiante...
...Duas pessoas colocaram magnificamente a questão essencial: a cientista Mayana Zatz, na entrevista à "Veja", edição de 2 de março, e minha mulher, Elena. Mayana Zatz sustentou que os embriões objeto das investigações científicas são todos resultantes de fecundações em laboratórios de fertilização e só começam a ganhar vida - mesmo considerando os argumentos religiosos contrários - a partir de sua introdução no útero materno. Há muitos embriões congelados? Um deles completou dezessete anos. O que fazer com todos eles? Jogá-los fora? Mas um católico não pode defender tal atitude, pois se ele acha que os embriões vivem, atirá-los ao lixo significa matá-los friamente. Sem proveito para pessoa alguma. Elena Martins Pedro do Coutto, conversando comigo sobre o tema, colocou um argumento que fecha o brilhante ciclo aberto pela doutora Mayana. Se a Igreja Católica (Elena é protestante) aceita a doação de órgãos, implicitamente tem que aprovar os embriões.
Com muito mais razão. Os embriões não têm cérebro. Aquele que está morrendo, e que se torna doador, possui cérebro. Seu coração pulsa. O centro nervoso, isso sim, está em falência. Mas sua passagem total na face da Terra somente se esgota quando os órgãos são retirados de seu corpo. O pensamento da minha mulher é brilhante a aponta para uma falsa contradição religiosa que só o fundamentalismo, e sua irmã-gêmea, a auto-hipnose, em conjunto, conseguem explicar.
Aqui cabe recordar a declaração de uma criança à pesquisadora Mayana Zatz. Ela perguntou: "por que não abrem minhas costas e colocam uma pilha para eu andar ao lado das minhas bonecas?", disse. Pois é...
Eu falei, no fundo, em fervor religioso, como no século VI o Vaticano classificou, ao interpretar o episódio da ressurreição de Cristo, uma vitória do dogma sobre a história. Mais um motivo para a Igreja de Roma - existem outras cristãs pelo mundo - aceitar os embriões: de que célula-tronco nasceu Jesus Cristo, resultado da fecundação da virgem Maria por Deus? Terá sido uma fecundação divina. Aceitemos para evitar uma discussão estéril. Mas nem por isso foi natural. Tanto assim que, para o Vaticano, através de dezoito séculos, Maria continua virgem.
Proibir seu uso a qualquer pretexto, como sustentou Mayana Zatz, sobretudo sua aplicação científica à luz do princípio supremo da ética humana, é algo tão absurdo como seria proibir a invenção do Radium, de Madame Curie, a psicanálise de Freud, a relatividade de Einstein, a Penicilina de Richard Fleming, a Tetraciclina, cujo inventor agora não me ocorre o nome, e por aí vai. Seria o mesmo retrocesso que, sem êxito, a Igreja Católica em 1610 tentou impor a Galileu que apenas achava que o planeta era redondo e não quadrado. A Igreja Católica vive em busca de dogmas para sustentar a fé.
Não há problema nisso, para os católicos. Dramático é que os católicos conservadores (pois há também os de vanguarda) desejem impor tais dogmas aos outros. Tentando isso, confirmam a impossibilidade de a religião conviver com a lógica e, portanto, com a ciência. Tentam refugiar-se no passado. Temem a luz do futuro que brilha no horizonte da vida e sempre iluminará o caminho do futuro. Querem a involução. Não a evolução natural das coisas.
Pois é....
Concordo plenamente com tudo que Pedro escreveu.
E você?
Você é a favor das pesquisas com células-tronco?
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