A história do Choro provavelmente começa em 1808, ano em que a Família Real portuguesa chegou ao Brasil. Com a corte portuguesa vieram instrumentos de origem européia como o piano, clarinete, violão, saxofone, bandolim e cavaquinho e também músicas de dança de salão européias, como a valsa, quadrilha, mazurca, modinha, minueto, xote e principalmente a polca, que viraram moda nos bailes daquela época. Esta última foi apresentada ao público em Julho de 1845.
A reforma urbana, os instrumentos e as músicas estrangeiras, juntamente com a abolição do tráfico de escravos, podem ser considerados uma “receita” para o surgimento do Choro, já que possibilitou a a emergência de uma nova classe social, a classe média, composta por funcionários públicos, instrumentistas de bandas militares e pequenos comerciantes, nos subúrbios do Rio de Janeiro. Essas pessoas, sem muito compromisso, passaram a formar conjuntos para tocar de “ouvido” essas músicas, que juntamente com alguns ritmos africanos já enraizados na cultura brasileira, como o batuque e o lundu, passaram a ser tocadas de maneira a brasileirada pelos músicos que foram então batizados de chorões.
O Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX, capital da Corte, configurou-se como um verdadeiro Império da boa música. A música produzida pelos diversos segmentos das camadas populares – lundus, modinhas, “choros” e maxixes – e difundidas pelas bandas de música, pelos grupos de choro, pelos seresteiros e pelo teatro de revista, criou um ambiente musical extremamente rico e diversificado na cidade. Era a música urbana que se consolidava, interligando as culturas, impondo a heterogeneidade e dando os primeiros passos de nossa musicalidade.
O primeiro grupo musical que temos notícia era uma espécie de “banda primitiva”, conhecido como “barbeiros”, que existiam desde o século XVIII, sendo formado, basicamente, por escravos obrigados por seus senhores a aprenderem novos ofícios.
Recebiam essa denominação porque a profissão de barbeiro era a única a deixar tempo vago para a aprendizagem de outros trabalhos. Eles se apresentavam em festas religiosas, profanas e até oficiais; tocavam dobrados, fandangos e quadrilhas. O pintor Debret em seu livro “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil” dá um retrato dos barbeiros do período:
Dono de mil talentos, ele (o barbeiro) tanto é capaz de consertar a malha escapada de uma meia de seda, como de executar, no violão ou na clarineta, valsas e contradanças francesas, em verdade arranjadas ao seu jeito.
No terceiro quartel do século XIX, a música de barbeiro foi perdendo espaço para outras formas de representação musical. Seu “ritmo de senzala” e seu espírito foram canalizados para os grupos de choro, mas nas foi nas bandas de música que detectamos mais claramente a sua continuidade.
Em 1896 foi criada a banda mais famosa do Rio de Janeiro: a do Corpo de Bombeiros. O maestro Anacleto de Medeiros (1866-1907), seu fundador, fez desse agrupamento musical um dos veículos principais de divulgação da música popular. Chorão e compositor, levou para o repertório das bandas as composições mais em voga do choro e também convocou para sua agremiação vários músicos que tocavam nos diversos grupos de instrumentistas da cidade. Com o seu tino musical apurado fez com que a Banda do Corpo de Bombeiros se destacasse das demais pela melhor afinação e arranjos mais bem-acabados.
Com a criação da Banda do Corpo de Bombeiros e a diversidade do número de bandas musicais, o Rio de Janeiro se consolida neste momento como centro formador de músicos profissionais. Músicos que não raro tinham nas bandas a única maneira de fugir da miséria em que se encontravam. Estamos falando de uma época em que ser instrumentista de banda representava comida e dignidade.
Joaquim Antonio Callado
Os grupos de instrumentistas populares, conhecidos como chorões, surgiram em torno de 1870. O “espírito de senzala” desses músicos, que faziam a partir da fusão do lundu com gêneros estrangeiros europeus, sobretudo a polca, suas interpretações musicais ao sabor da cultura afro-carioca, era o tempero para suas audições nos arranca-rabos e cortiços das camadas populares, nos bailes da classe média, batizados, aniversários, casamentos ou mesmo nas apresentações dos salões da elite da corte.
O compositor mais localizável no tempo como precursor dos grupos de choro é Joaquim Antônio da Silva Callado (1848-1880). É considerado o pai dos chorões por ter inserido sua flauta de ébano ao lado de violões e cavaquinho e ter organizado o grupo de músicos populares mais famoso da época - o Choro Carioca. Joaquim Callado nos legou poucas músicas conhecidas, onde podemos destacar o primeiro choro “A Flor Amorosa”, seu maior sucesso, e “Querida por todos”, esta última feita para a maestrina Chiquinha Gonzaga. Mestiço simpático, exímio flautista, mulherengo, popular na cidade, o nosso chorão era filho da primeira geração do choro, que compreende as datas de 1870 até 1889. Ao seu lado estavam Viriato Figueira, Virgílio Pinto, compositor e instrumentista, Luizinho, o violinista Saturnino e tantos outros músicos.
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