quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

"MAYSA - QUANDO FALA O CORAÇÃO"...3º CAPÍTULO...

Sobre o terceiro capítulo de “Maysa – Quando fala o coração”: ser uma pessoa verdadeira, autêntica e contestadora tem um preço. Assim como o sucesso. A ausência total de privacidade é, para mim, o preço mais alto a pagar. Depois vem a cobrança pelas atitudes ousadas que chocam a sociedade humana, altamente conservadora, repleta de regras rígidas e quase sempre retrógradas, causadoras do preconceito e da intolerância.







Maysa era autêntica, verdadeira, contestadora, desafiadora de regras e comportamentos estabelecidos pela sociedade. A falta de privacidade, a cobrança e os ataques quase que diários da mídia e da família do ex-marido, tornaram-se pesados demais. Peso agravado pelo abuso do álcool, é claro.
- Quando é que eles vão me deixar em paz? pergunta Maysa.
A resposta da “fiel escudeira” foi sábia.
- Quando você estiver em paz.







Mas, como encontrar a paz quando se vive para quebrar regras, derrubar tabus, ultrapassar limites, questionar comportamentos e romper preconceitos? Maysa priorizou a liberdade de pensar, agir e ser. Recusou o que era, e é até hoje, o sonho de muitas mulheres: sustentar um sobrenome tradicional e viver às custas do marido, sendo apenas e tão somente mais uma “dondoca” rica na sociedade. Separação judicial naquela época era um escândalo. Imagina recusar a pensão! E mais absurdo ainda era desfazer um casamento e trabalhar, mantendo-se com o dinheiro de seu trabalho. E ainda por cima, cantando na noite! Mulher separada era vista como fácil, leviana. Odiada e rejeitada pelas mulheres casadas, desejada pelos homens e temida pelas solteiras. Agora, imaginem uma mulher desquitada (porque naquele tempo não existia o divórcio) e, ainda por cima, cantora! O cúmulo do absurdo!







Como ela se atreveu a desquitar-se de um Matarazzo? Como ousou recusar a pensão? Mas ninguém questionou quando ela fez questão de casar-se com separação total de bens! Pois é.







A verdade é que todas as mulheres têm dentro de si um pouco de Maysa, de Leila Diniz, de Chiquinha Gonzaga e de tantas outras mulheres de comportamento “revolucionário”. Sempre tiveram. Raras ousaram liberta-las. Mas foram essas mulheres “revolucionárias” que abriram os espaços e os caminhos para a situação feminina atual. A ousadia, a rebeldia e a coragem dessas mulheres.







Maysa “pecou” pelo atrevimento de ser ela mesma e de “bancar” sua vida. Seu pecado mortal foi viver a vida plena e intensamente, usufruindo de todos os prazeres que podia, satisfazendo seus desejos e escrevendo suas músicas. E era justamente nas letras de suas músicas que se percebia o quanto ela era uma mulher sofrida. E o preço alto que pagava por sua opção. A opção de ser Maysa Monjardim. A opção de ser cantora e compositora. A opção de ser livre. A opção de se manter economicamente. E pensar que tudo isso hoje em dia é tão comum....

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