Vamos começar pelo cinema. Filmes como o de Stallone ou do tipo pastelão americano ficam meses e meses em cartaz nos cinemas brasileiros. Já os nacionais....Quem correu, viu. Caso contrário, espere chegar na locadora.
Nossa bossa nova e nosso choro, por exemplo. O povo lá de fora a-d-o-r-a! E enquanto nossos grandes músicos, compositores e instrumentistas são desprezados por aqui, lá fora são amplamente reconhecidos e requisitados!
Nossos atletas precisam viver em outro país para terem condições de treinamento que permitam um desempenho à altura de sua capacidade. Necessitam de patrocínio, de tecnologia, de valorização. Nossos cientistas, idem.
O Brasil é um país que investe pouquíssimo – ou quase nada – em seus talentos. Seja da área que for. O povo brasileiro é um povo que não valoriza nada que é feito pelo brasileiro. Minto. Valorizamos os jogadores de futebol, os cantores de axé e do tal do sertanejo (leia-se Xitãozinho e Xororó, Leonardo e todos os que começaram e que dão continuidade a isso) e...acho que é só. Vamos pensar na música, no cinema, na ciência, na literatura. E então? Pois é.
Acabo de lembrar de Nelson Rodrigues e seu “complexo de vira-latas”. Nosso grande escritor, dramaturgo e jornalista criou essa expressão ao escrever sobre a derrota do Brasil na copa de 1950: “por 'complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.” Resumindo, os brasileiros acham que tudo que vem lá de fora é melhor. Não importa se vem dos EUA, da Inglaterra, da França, do Japão. Estava Nelson Rodrigues errado?
O Brasil não é apenas bunda, carnaval, caipirinha e futebol! Nós inventamos o avião, a máquina de escrever, a abreugrafia, o dirigível, o bina (identificador de chamadas), a fotografia, a urna eletrônica, o lacre de segurança de plástico e outras coisas mais simples, como o muito útil escorredor de arroz! Assim como criamos o samba, o choro e a bossa nova! E aí, mais uma vez venho citar Nelson Rodrigues: “o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem.”
O assunto é amplo. Até porque, vamos e convenhamos, como diz minha mãe: Stallone, Robin Williams e tantos outros falam mal e debocham de nós e de nosso país porque nós permitimos. Essa é a verdade. A partir do momento em que menosprezamos o que é nosso e o que somos, estamos sendo permissivos e coniventes com o que pensam e dizem sobre nós.
Você sabe de algum bairro nos EUA onde exista uma escultura reproduzindo o Cristo Redentor, e shopping, lojas, boutiques e restaurantes com nomes brasileiros? Pensa aí. Pois é. Mas você encontra até a Estátua da Liberdade na Barra da Tijuca, um bairro do Rio de Janeiro. A sensação que você tem quando anda por lá...Bem, é como se você estivesse em terras do tio Sam. Pois é.
Não, não sofro de xenofobia. Gosto de muitas coisas que vem lá de fora. E admiro muitos escritores, atores e cantores estrangeiros. Mas não deixo de valorizar o que é nosso. Gosto de jazz, rock, blues, tango, mambo. Mas a-d-o-r-o e priorizo o choro, o samba e a bossa nova. Curto Drummond, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Luis Fernando Veríssimo, Millor Fernandes, Lya Fuft, Nélida Pinõn, Cora Coralina, Fernando Sabino e tantos outros escritores e poetas brasileiros. Temos maravilhosos e espetaculares atores, atrizes, cineastas, diretores...E o que dizer de nossos publicitários? Pois é. E nossos estilistas, modelos, fotógrafos. E nossos arquitetos e paisagistas. E nossos cientistas, como Adolpho Lutz, Carlos Chagas e César Lattes, entre outros.
Barra da Tijuca/RJ
É lamentável que o turismo interno seja, ainda, tão caro para a maioria dos brasileiros. É lamentável que os governos estaduais e municipais, em sua grande e esmagadora maioria, só ofereçam o pagode, o axé, o funk e o sertanejo gratuitamente para o povo.
Queremos ser respeitados? Então, tratemos de nos respeitar. Queremos ser valorizados? Então, tratemos de nos valorizar. É isso. Aff!
Nice Pinheiro
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