sábado, 14 de junho de 2008

MAIS UM QUE PARTE E DEIXA SAUDADES....

Mais um que parte e deixa saudades. O cantor e compositor José Bispo Clementino dos Santos, o famoso Jamelão, morreu às 4hs deste sábado, na Casa de Saúde Pinheiro Machado, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde quinta-feira, em decorrência de infecção generalizada.




Conheci Jamelão num show na Ilha dos Pescadores, na Barra da Tijuca. Com apenas 14 anos, fiquei apaixonada pela voz e pela interpretação daquele negro alto e imponente. Estava com minha mãe, um casal de amigos dela e a filha deles, que tinha minha idade.
Mariângela detestou a música e queria ir embora. Não se conformava em me ver curtindo aquela “música de velho”. E eu fiquei ali, encantada com aquele vozeirão, aquele homem enorme e aquelas músicas maravilhosas! Conhecia algumas e cantava junto com ele.
Os amigos de minha mãe ficaram espantados ao perceberem que eu conhecia "aquelas" músicas. E Mari ficou revoltada. Me chamava de velha, de "quadrada", dizia que queria ir embora daquele lugar que mais parecia um asilo. E eu ali, curtindo muito aquele momento!



Quando acabou o show, fui falar com ele. Muito simpático e sorridente, Jamelão mostrou-se surpreso ao ver uma “menina” tão interessada por aquele tipo de música. Mais surpreendido ainda ficou quando eu disse que adorava Maysa, Frank Sinatra, Dolores Duran, Dick farney, Glenn Miller e outros tantos.
Ficamos conversando durante algum tempo. Pedi que ele deixasse a Mangueira e fosse ser puxador do Salgueiro, minha escola do coração. Ele respondeu com uma sonora gargalhada e disse que como o Salgueiro era minha escola do coração, a Mangueira era a escola do coração dele. E acrescentou: “Minha alma é verde-e-rosa”. Então eu respondi: “A minha é vermelha e branca”. Rimos e ele passou as mãos sobre minha cabeça, como quem diz, “Ah, menina danada!”.








Quando nos despedimos, ele me disse: “ a maioria dos jovens não gosta da música que eu canto. Fico feliz que você, tão nova, tenha gostado de meu show. Obrigada mocinha. Valeu a pena vir aqui hoje”. Foi mais ou menos isso que ele disse. E eu respondi com um sorriso, um beijo e um tímido tchau. Depois disso nunca mais nos encontramos. Mas nunca mais deixei de ouvir Jamelão.



O samba está de luto.
Mas Dona Zica e Cartola já prepararam tudo!
Hoje tem samba no andar de cima!
Chora cavaco!!!!


Cartola e Jamelão
Jamelão nasceu no bairro de São Cristóvão e depois mudou-se com os pais para o Engenho Novo, onde passou a maior parte de sua juventude. Foi lá que começou a trabalhar para ajudar a sustentar a família, com sua irmã e mais dois irmãos, pois seu pai havia se separado de sua mãe.
Trabalhando numa fábrica de borracha no Engenho Novo, começou a sair na noite com um amigo e a conhecer muitas músicas num lugar chamado "Eldorado". Foi aí que começou a cantar. Como corista de Francisco Alves, numa certa noite tomou o lugar do famoso cantor para defender uma canção de Herivelto Martins. Sua primeira gravadora foi a Odeon e depois a Companhia Brasileira de Discos.
A partir de 1950 fez vários sambas-enredos para a Mangueira. Para Jamelão, os melhores samba-enredos da escola de samba verde e rosa eram, "Cântico à Natureza", "O mundo encantado de Monteiro Lobato" e "Caymmi mostra ao mundo o que a Mangueira tem". Em 1960 lançou várias músicas de sua autoria e de sua mulher. Com a música "Fechei a porta", fez muito sucesso.




Há mais de 50 anos, atuava como puxador oficial da Estação Primeira da Mangueira. Referência obrigatória no gênero, entendia de carnaval mais do que ninguém. É dele a interpretação de sucessos como Agora Sou Feliz, do Mestre Gato, O Samba É Bom Assim, de Norival Reis e Helio Nascimento, e Esses Moços e Ela Disse-me Assim, de Lupicínio Rodrigues.

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