Versão feminina
Você está lá, tranqüila no seu carro, aproveitando o sinal fechado para retocar o batom. Pelo retrovisor percebe que o cara de trás não desgruda os olhos de sua boquinha. Ele é bonito e tem um baita carrão. “Deve ser impressão minha”, pensam seus neurônios, ancorados na auto-estima entre média e baixa que Deus lhe deu. Abre o sinal, você anda uns 100 metros, do seu lado direito pára um vendedor de chicletes, um cara de cadeira-de-rodas, um assaltante e um Hare Krishna. Do lado esquerdo pára o bonitão, encarando. Discretamente, você checa as mãos no volante – não amiga, ele não usa aliança!!! Em seguida ele abaixa o vidro elétrico e diz “me dá seu telefone?”. Completamente abobalhada com a sucessão de eventos maravilhosos, pega o celular para jogar dentro do carro dele, mas Shiva a ilumina a tempo e você passa lentamente o cartãozinho pela janela.
Três horas mais tarde ele liga, chamando para jantar. Depois de aceitar você desliga o telefone cantando “tá dominado, tá tudo dominado”. Na hora do almoço corre para o shopping e detona o cartão de crédito em uma saia nova, afinal de contas, investimento é tudo nessa vida. Ele vem lhe buscar chique e perfumado, leva para um restaurante francês para comer foie gras, com direito a Moet Chandon. Romanticamente, vocês preenchem os cupons de sorteio para uma viagem para Paris. Você começa a se imaginar na foto, em Paris, com ele.
Para melhorar ainda mais o quadro ele paga a conta sem falar em dividir, coloca um CD mela-cueca do Burt Bacharat e pára na porta do seu prédio. Você o convida para um licorzinho básico e jura que não vai dar, mesmo porque não fez depilação e a última coisa que quer é ser confundida com Monga, a Mulher-Macaca. Rola um malho delicioso e quase irresistível – juntando todas as forças você consegue se segurar. Ele se despede com um abraço carinhoso e aquela sinfonia para nossos ouvidos: “Ligo amanhã”.
No dia seguinte, depois de outro estouro no cartão de crédito, dessa vez com lingerie nova, preta e sexy, de ter dispensado todas as amigas, você senta e espera. Sua mãe chama, sua avó, a vizinha, o Ibope chama para fazer pesquisa eleitoral, até Avon chama, só ele é que não. Depois de horas de angústia, derrotada, você vai tentar dormir com a sensação horrível de que nem um passeio pela Guaicurus durante um apagão causado pela chuva que inundou a rua poderia ser pior. Enquanto rola pela cama, em sua cabeça uma pergunta que não quer calar. “Por que, por que, por que???”
Versão masculina
(por questão de decoro da colunista os palavrões serão identificados apenas pelas iniciais)
(por questão de decoro da colunista os palavrões serão identificados apenas pelas iniciais)
Ele vem dirigindo o carro com um pouco de pressa quando um sinal de trânsito fica amarelo e um carro à sua frente freia bruscamente, forçando-o a frear mais bruscamente ainda. “Que m. Deve ser alguma dessas vacas que só usam retrovisor para retocar a maquiagem”, pensa irritado. Vai conferir e não dá outra – realmente ela está pendurada no espelho, retocando batom, parece, sei lá. Mas a “vaquinha” até que é bonitinha, dá pra dar uns pegas. “É, mas se eu bato meu carro naquela carroça vai ficar mal”, volta a ficar irritado. “Vou azarar só de sacanagem, vai ver meu carro, garanto que vai dar mole na hora.”
O sinal abre, ela fica 5 segundos acelerando a p. do carro, até conseguir sair, arranhando a marcha. Haja saco! Daí uns 100 metros novo sinal, param lado a lado. Rápido no gatilho, tira a aliança e volta a colocar as mãos no volante. Ufa! Deu tempo. Ela está olhando. “Vai ser a maior moleza. Não vou nem gastar saliva, vou pedir direto o telefone, aposto que vai querer jogar o celular dentro do meu carro”. Ela grita peraí, enquanto revira a bolsa, as pessoas xingam de tudo quanto é nome até ela conseguir parir um cartãozinho ridículo e amassado, com florzinhas e corações. Chega em casa e aplica a mulher. “Só vim tomar um banho e trocar de roupa, tenho uma auditoria para fazer, sabe como é, só pode ser de noite, as empresas não vão parar para eu trabalhar, você entende, não é, te amo, tchau”.
Pega o celular e liga “lembra de mim, o cara de hoje, do Audi, quer jantar comigo?” Ao ouvir, “claro!!!, ele desliga e grita alto “mais uma, mais uma.”Ela aparece com uma saínha ridícula, destas de R 1,99 e ele “fazer o que?”, leva para um restaurante legalzinho,“vale tudo para comer uma mulher”. Preenche o cupom do sorteio de uma viagem a Paris e fica matutando “se eu ganhar quem é que eu levo?” Depois de pagar a conta “absurdo de cara!” ele pensa “acho bom me convidar para subir, não estou afim de gastar mais grana com motel.”
O licorzinho vale para uns amassos bons, mas quando ele começa a avançar o sinal ela grita “pára”, em tom histérico. “P.que. p., que saco, vou me arrancar”, decide depois do terceiro grito. Diz que ela é maravilhosa, que liga no dia seguinte sem falta. No elevador, com uma dor de matar no saco, chega à conclusão “que m., chegando em casa, vou ter de comer minha mulher”.
Pára em um posto de conveniência para comprar cigarros e, surpresa, do lado dele surge uma colega do tempo de faculdade, ainda gostosíssima, com tudo em cima. Tomam uma cerveja, carro dela e conversa vai, conversa vem, ela acaba levando ele para um motel. Transam duas horas seguidas loucamente e, para surpresa dele, ela avisa no final: “Essa faço questão de pagar”. Meio sem graça ele aceita e vão buscar o carro dele no posto. Trocam telefones. A amizade e o sexo continuam até hoje. E adivinhem quem ele levou para Paris?
*Homem sempre diz que vai ligar. O indigesto “se cuida”, significa igualmente que ele não vai ligar, não vai cuidar de você e tchau mesmo!
rsrsrsrs...
autoria desconhecida
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