segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O DEPLORÁVEL "DEPLOMA"...

por Mario Drumond
Gazeta em forma de e-meio 69
Vol. 2 - 20/10/2008





O deplorável "deploma"





Temos acompanhado, pelos emeios de Heitor Reis (Elucubrações Dialéticas), essa velha polêmica que por acá vem novamente nos amolando, em torno da obrigatoriedade do diploma de jornalista. Pensava este gazeteiro que era um equívoco já ultrapassado, mas, não, ele anda por aí: é um fantasma que se disfarça de jovens estudantes de comunicação.






Outro dia vimos um; Heitor e eu estávamos tomando umas num boteco lá pelas bandas do Maleta, e ele apareceu. É pegajoso, insiste, pentelha, chateia, não é fácil de descartar, ainda mais quando difarçado de moça comunicóloga, como foi o caso.






Nossa tática foi a de falar só o mínimo, dentro dos limites da cordialidade, senão estaríamos condenando o nosso papo que ia cabeça e bem levado, já na terceira ou quarta cerveja, quando ele(a) apareceu. Se a nossa paciência estivesse num momento mais flexível, como às vezes fica ou tem de ficar, por exemplo, numa sala de espera de aeroporto, seria o caso de dizermos à moça que o jornalismo, enquanto exercício legítimo de informar e opinar através de veículos de comunicação, antes de ser uma profissão ou um ofício, é um direito, e, em certos casos, até um dever de qualquer cidadão. Nos casos mais bem sucedidos, é, antes, uma vocação.




Vocação de observador com interesse analítico ou crítico, associada à capacidade de transmissão escrita, oral, fotográfica ou audiovisual do que observa, analisa ou critica. Nem todos a possuem, a desejam ou a obtêm. O fato de tê-la não aumenta nem diminui a ninguém, é só tê-la. O mais é consequência, pode ser uma questão de grana ou de caráter, depende de cada um.






Não é como a Medicina, a Engenharia, o Direito, a Aeronáutica e outras profissões e ofícios que, antes de tudo, até da vocação, são ciências e práticas precisas, necessitam conhecimento ministrado e experiência atestada. O sujeito tem de ser certificado como capaz de exercê-las, seja para fazer cirurgia, ponte, julgamento, pilotar um Boeing ou o que mais há. É o do outro que está na reta em primeiro lugar, entendeu, moça? Há uma responsabilidade legal sobre o que se vai fazer no outro, com o outro ou pelo outro. O jornalismo, não. Em primeiro lugar, é o seu próprio que fica na reta. A informação e a opinião não ferem, não maltratam, não prejudicam, não matam por si mesmas. Isto quem pode fazer são as empresas de comunicação, por manhas e malas-artes dos poderes que detêm ou a que servem, não o jornalista nem o jornalismo. Quando o jornalista aceita participar do jogo de interesses dos patrões, ele deixa de ser jornalista e o que está fazendo não é jornalismo.





O jornalista é o que assina embaixo da matéria publicada e, se for mal informado, incompetente, de má fé ou não tiver talento para comunicação, perde a credibilidade, se ferra, se dá mal. Perde o público e o espaço, mas não machuca ninguém. É como o samba; "não se aprende no colégio" (Noel). Ou como a poesia. Pode haver nela até ciência (arte) e ofício (engenho), mas isto vem depois.




Nem todos são poetas; nem todos são jornalistas; os que são mesmo e de verdade primeiro são vocacionados, e, em geral, são autodidatas. Exigir diploma a alguém para ser jornalista é como exigir diploma a um poeta (ou sambista).





É isto aí, menina, sacou? Faça o seu jornalismo, se é capaz, e não amole.





Enviado por Heitor Reis - 3º Setor

2 comentários:

Fernando Carrara disse...

Olá Nice, tudo bem?

Passando pra dizer que achei muito interessante os assuntos que você aborda no seu blog. Tem muita gente precisando ler isso.

Beijo,
Fernando Carrara

NICE PINHEIRO disse...

Olá Fernando. Surpresa boa te ver por aqui.Obrigada. Você está me devendo uma resposta sobre seus textos, lembra? rsrsrs...

beijo