segunda-feira, 29 de setembro de 2008

TRANFORMANDO NÉVOA EM ÁGUA...

Gaëlle Dupont




É uma idéia simples que poderia, segundo garantem os seus promotores, garantir o acesso à água para um grande número de comunidades rurais que vivem em regiões áridas. Quando a chuva não cai em quantidade suficiente, os homens podem capturar as gotinhas das nuvens utilizando dispositivos que levam o nome poético de captadores de névoa. A ferramenta é elementar: redes móveis de malha de plástico ou de aço são afixadas em estacas de aço inox, de dois a três metros de altura. Elas devem ser colocadas de frente para os ventos, que transportam nuvens e névoa.





As gotinhas em suspensão no ar, que formam a neblina, são interceptadas pelas redes, nas quais elas se agregam e acabam formando um fio de água que pode ser transportado ou armazenado. O rendimento médio é de 20 litros de água por dia e por metro quadrado de rede. O sistema é comercializado pela Natural Aqua, uma pequena empresa instalada nas ilhas Canárias.




A técnica na qual esses captadores são inspirados é ancestral. "A existência de árvores-fontes foi mencionada pela primeira vez no século 15, por ocasião da conquista das Canárias pelos conquistadores da Castela", explica Alain Gioda, um historiador do clima instalado no Peru, membro da unidade das ciências das águas no Instituto de Pesquisas e de Desenvolvimento (cuja sigla em francês é IRD). Ele estudou esta técnica e contribuiu para difundi-la. "Na ocasião, os conquistadores constataram que os indígenas utilizavam árvores plantadas na frente de paredes rochosas para recolherem água". O método perdurou. Inúmeras espécies diferentes podem ser utilizadas; o que importa é a localização adequada da árvore, pois é esta que garante o rendimento em água.





Reflorestamento





As primeiras redes de plástico inspiradas nesta técnica apareceram durante os anos 1960, mas elas se deterioravam facilmente. As malhas que foram elaboradas pela Natural Aqua têm uma duração de vida de cinco anos, enquanto as estacas de aço inox agüentam cerca de dez anos no terreno. Segundo Alain Gioda, as vantagens dos captadores de bruma são numerosas: eles permitem alimentar em água de boa qualidade aldeias isoladas, e dispensam a construção de infra-estruturas caras.





Elas podem igualmente servir para o reflorestamento de áreas desertificadas. "Cada rede colocada atrás de cada árvore proporciona um acréscimo em água importante", explica o pesquisador. O custo é limitado (algumas centenas de euros para um aparelho simples). O captor, que não requer nenhuma manutenção importante, é silencioso e não consome energia alguma. "O principal perigo que nós enfrentamos é o vandalismo", prossegue Alain Gioda. Além disso, ventos muito violentos também poderiam destruir o dispositivo.






As zonas propícias para a instalação de captadores são as orlas ocidentais dos continentes e as ilhas brumosas, porém carentes de chuvas. A pequena empresa Aqua Natural comercializa a técnica nos países desenvolvidos. Uma fundação batizada de Agua sin Fronteras, que acaba de ser criada, permitirá difundir os captadores nos países em desenvolvimento, fornecendo gratuitamente as plantas para as comunidades interessadas.
Não é fantástico?




Le Monde

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