Em meio às coloridas casas coloniais do tradicional bairro La Candelaria, em Bogotá, encontra-se o refúgio de Simón Vélez. É uma casa aparentemente pequena, mas de seu interior emerge um grande mundo: rodeado de salas atrevidas, pontes e caminhos de pedra, está o arquiteto trabalhando com sua equipe a todo vapor. Nos últimos meses, não param de chegar propostas de projetos que vão de coxias a hotéis de luxo.
Esse ritmo de atividade não chega a ser raro para arquitetos europeus, japoneses ou norte-americanos globalmente famosos. Mas o caso de Vélez é diferente. O motivo da demanda são suas construções amigas do meio ambiente, que têm como matéria-prima um novo material criado por ele: o bambu recheado. Trata-se da união da guadua, uma espécie de bambu, e o concreto. Tal matrimônio é feliz, já que a combinação provê o material de uma particular resistência na construção de casas e edifícios.
A descoberta da bandeira de seu sucesso chegou por acidente, quando estudava arquitetura e estagiava em Manizales, cidade da região cafeicultora colombiana. Nessa zona, a guadua é uma planta silvestre. Veléz, que afirma que na época - anos 60 - era um "hippie oligarca" e não um ecologista, se apaixonou pelo ambiente natural graças à revalorização que o movimento hippie fazia do simples.
Mas a relação de Vélez com essa planta vem de antes. Seus avós viviam em uma casa de guadua; seu pai, que se formou nos EUA, foi um dos primeiros arquitetos modernos colombianos que trabalhou com concreto. Mas desde a universidade Simón expressou sua rebeldia ao cimento, defendendo os elementos usados por seus avós. Entretanto, como em muitas negações, por trás de sua resistência ao concreto havia um reconhecimento oculto. E a inovação veio com a síntese de tudo isso: o concreto dentro do bambu. "Essa descoberta permitiu me lançar a construções maiores", diz.
Depois de superar a desconfiança de muitos, o efeito visual de suas construções foi atraindo cada vez mais a atenção, até ultrapassar as fronteiras colombianas. O marco nesse caminho foi sua presença na Expo Hannover de 2000, quando construiu o pavilhão da ONG ambiental ZERI (Zero Emissions Research Initiatives). Os "verdes" globais gostaram de sua proposta. Depois, Simón participou - no bosque chinês de Guangdong - do projeto de um dos primeiros destinos ecoturísticos do país: o Crosswaters Ecolodge. Em 2006, essa obra foi premiada pela American Society of Landscape Architects.
Entre muitos outros projetos de nível mundial, destaca-se a colossal construção do Museu Nómada, no Zócalo (praça central) da Cidade do México, no início deste ano. Com um custo de US$ 5 milhões, o arquiteto exportou 9 mil peças de guadua da Colômbia, para mostrar em toda sua magnitude a exposição fotográfica do canadense Gregory Colbert. No começo do segundo semestre, já estava trabalhando para montar a mesma exposição em São Paulo e nas praias do Rio de Janeiro, ambas patrocinadas pela Fundação Rolex.
Em seu país, além de casas campestres de alto nível, construiu um supermercado, também em guadua, de 2 mil metros quadrados para o Carrefour, bem como pontes, hotéis e igrejas em vários pontos do país. Também foi responsável pela construção de casas populares - um desses projetos, inclusive, na Guatemala. Porque, cabe destacá-lo, as estruturas em bambu de Vélez permitem uma economia de custos, além de uma resistência adicional aos movimentos telúricos.
Seu estilo visual, onde o vegetal ganha cores fortes, encanta e as ofertas de projetos chovem em seu ateliê. Simón conta que acaba de recusar a idéia de um hotel ecológico na Indonésia, bem como outros projetos verdes na Europa. Com 58 anos, reclama de certo cansaço pela rotina de aviões e por ter que se afastar freqüentemente de seu refúgio colonial de Bogotá. Não quer ensinar; apenas desfrutar de seu trabalho. Assim, quem queira convencer Vélez por um capricho arquitetônico, terá que bater à sua porta nesse bairro colonial e tirá-lo de sua tranqüilidade. E partir com toneladas de sua guadua e sabedoria nas costas. Não resta outra alternativa.
Fernando Cárdenas (publicado no website América Economia em 24/09/2008)
Fantástico, não é? Pois é. Só não achei legal ele se negar a ensinar a técnica. Se eu tivesse condições, certamente optaria por uma casa construída totalmente com bambu. O governo brasileiro poderia incentivar a prática em nosso país, facilitando crédito, cursos, enfim, para quem quisesse construir residências, lojas e etc, com este material. Pois é...
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