domingo, 17 de agosto de 2008

HOMEM TAMBÉM SOFRE CALADO...

Por Nice Pinheiro
Eles se conheceram casualmente. Rolou um sexo gostoso, com gosto de quero mais. E então, mais uma dose de prazer hoje, outra amanhã e depois. A paixão crescia a cada dia. Foram viver juntos, na casa dele. Transavam todos os dias. Na sala, no quarto, na cozinha. De dia, à tarde, de noite ou no meio da madrugada.






Algum tempo depois, a traição dela provocou o fim do relacionamento. Ele descobriu e terminou. Ela, desesperada, fez um escândalo. Ele, atordoado, mandou-a embora mais uma vez. Ela o procurou mais algumas dezenas de vezes. Insistiu. Finalmente conseguiu que ele a ouvisse. Conversaram. Perdão e reconciliação.






Ela se converteu. Agora ela era uma mulher evangélica. Nada de bebidas, cigarro, noitadas. Ela era uma mulher de Deus. Então, ele se converteu também. Casaram-se. Poucos meses depois, o primeiro filho. Dois anos se passaram e veio mais um filho.





As brigas se repetiam quase que diariamente. E os meninos iam crescendo. O sexo ainda era gostoso e freqüente. E freqüente também eram as agressões verbais. Apesar de tudo, eles seguiam juntos. Era quase uma competição para ver quem desistia primeiro.






Ela desistiu e pediu que ele saísse de casa. Ele saiu, mas por pouco tempo. Dias depois ela pediu que voltasse. Ele voltou. E as brigas também. Resolveram pedir ajuda. Começaram a fazer terapia e, para ajudá-los, algumas doses de antidepressivos e calmantes. Tentaram. Não conseguiram. Saiu de casa novamente.





Ele havia abandonado a igreja há pouco tempo. Na verdade, ele foi abandonando a igreja aos poucos. Não entendia como uma mulher evangélica e tão temente a Deus podia fazer tanta coisa ruim para a vida deles. Foi perdendo a fé e a esperança de tudo ficar bem. Novamente, algum tempo depois, ela pediu para voltar. Os meninos estavam rebeldes. Brigavam muito e não a obedeciam mais. Ele voltou. Os meninos realmente estavam insuportáveis. Ele deu jeito na casa. Os filhos voltaram a ser o que eram.






Agora não havia mais briga entre os filhos. E nem entre o casal. Agora eles simplesmente ficavam sem se falar durante horas. Não propositalmente, mas porque não tinham nada mesmo para conversar. Não havia mais interesses em comum, não havia mais participação na vida do outro, não havia mais atenção ao bem estar e muito menos havia sentimento.


Ela foi para a igreja com os filhos. Ele ficou em casa, acompanhado pela tristeza e pela solidão. Quando ela voltar, não haverá conversa. Os meninos contarão alguma coisa. Ou não. Ele talvez prepare alguma coisa para comer antes de dormir. Em frente à televisão, o olhar se perde e o pensamento voa, sem direção certa. No meio de toda a confusão, apenas a certeza de querer ser feliz. E de saber que não é ali, e nem com aquela mulher, que está sua felicidade.





Os meninos vão dormir. Após o banho, ela toma um calmante e vai pra cama. Algum tempo depois, ele desliga a televisão e verifica se portas e janelas estão devidamente fechadas e trancadas. Um copo de leite morno e um calmante. Deitado de costas para ela, uma lágrima escorre em sua face. E ele adormece.

2 comentários:

Adina De oliveira disse...

Sabe?
Eu conheço e vivi esta história 20 anos da minha vida... não adiantou nenhum curso ou palestra ou aconselhamento... mas adiantou de verdade ter a consciência que sempre há tempo para ambos serem felizes independente de como irão caminhar...

NICE PINHEIRO disse...

É verdade Adina. Cada um que sofra sua dor da forma que acredita ser correta e necessária, não é? E quem não sofreu por amor? Se não passou por isso, um dia passará. Obrigada pela participação linda.
bjs