sábado, 9 de fevereiro de 2008

ARTE DE ENVELHECER ... (NICE PINHEIRO)

ARTE DE ENVELHECER - OU SIMPLESMENTE AMAR A VIDA!
Por Nice Pinheiro
Todos nós nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. É a vida. É inevitável. Fomos felizes na infância, na juventude e quando adultos, até.....Até descobrirmos que estamos envelhecendo!
De repente, seja dentro da banheira abrindo um livro ao acaso ou na frente do espelho observando a primeira ruga, percebemos que estamos envelhecendo. Um dia, de uma forma ou de outra, a ficha cai.
Pois é, estou com 51 anos e envelhecer está sendo maravilhoso! Maluca, eu? Não, claro que não. Isto é, se esta é sua opinião, tudo bem. Mas posso garantir que minhas engrenagens cerebrais estão em perfeito estado. Pelo menos até o dia de hoje!
A juventude física passa, como tudo na vida. O problema é que a maioria das pessoas, quando jovens, enxerga pessoas adultas como velhas. E os velhos são encarados pelos jovens como jurássicos, como verdadeiros “entraves”. Ora, os jovens esquecem que também vão envelhecer!
A juventude física é efêmera. A juventude mental, esta sim, pode e deve permanecer. As pessoas mentalmente jovens vivem bem melhor. São, em geral, bem resolvidas e sabem perfeitamente o que querem e o que não querem. E o que caracteriza uma pessoa mentalmente jovem? A alegria de viver, a capacidade de sonhar e realizar, a insistência em ser feliz e uma certa rebeldia contra valores e conceitos impostos pela sociedade e pela mídia. O corpo envelhece, não tem jeito. O cérebro começa a ficar mais lento e podem surgir algumas complicações, é verdade. Mas um pensamento jovem pode ser permanente. Só depende de nós.
Quando percebi meu primeiro fio de cabelo branco fiquei encantada! Mostrava para todos, como se fosse um troféu, uma medalha de ouro. Ficava “namorando” meu fio de cabelo branco no espelho. E surgiram mais e mais cabelos brancos. E aos 42 anos, estava eu grisalha. Permaneci grisalha por uns quase três anos. Adorava me ver no espelho. Me “curtia”. Minha mãe dizia que eu parecia mãe dela, meu pai não se conformava, meus amigos evitavam comentar e minha filha quase surtava quando nos encontrávamos. Quando questionavam meu cabelos grisalhos, minha resposta era sempre a mesma:
-Adoro meus cabelos grisalhos. São perfeitos!
A expressão facial de algumas pessoas denunciava espanto. Tipo, eu hein, tem gosto pra tudo. Nem ligava. E lá ia eu. Barriguinha pra dentro, bundinha pra fora, narizinho pra cima e meus lindos e amados grisalhos no alto de minha cabecinha. Até que um dia, minha filha resolveu me infernizar de tal forma que fui obrigada a ceder. Ou eu pintava os cabelos ou jogava minha linda e maravilhosa filha no rio Paraíba e permanecia grisalha. Então, mulher sensata que sou, fiquei com a primeira opção, é claro. Hoje meus cabelos não são grisalhos. Pinto da cor natural. Castanhos. O que me consola é saber que eles estão ficando cada vez mais brancos e que em breve poderei voltar a ser uma mulher de belos cabelos grisalhos. Ou talvez totalmente brancos! Que espetáculo!
Envelhecer não me deixa triste. Sou muito mais do que uma pele firme, esticada, sem celulite ou estrias. Me lembrei de Nelson Rodrigues.
Aos homens, Nelson dizia:
- Jovens, por favor, envelheçam!
Sobre as mulheres, Nelson era categórico:
- As mulheres não têm que ser bonitas. As mulheres têm que ser interessantes. A beleza, o tempo leva. Já uma mulher interessante, será sempre interessante!
A tendência é ver o “envelhecer” pelas rugas, pela flacidez, pelos cabelos brancos. Eu vejo o “envelhecer” pela leveza das atitudes, pela tranqüilidade de viver, pela paz conquistada dia-a-dia e pela produtividade, muitas vezes superior a dos jovens. Vejo o “envelhecer” como um prêmio da vida. Vejo o “envelhecer” como uma dádiva.
Envelhecer é gratificante. Os anos levam o vigor físico, mas trazem sabedoria, serenidade e uma liberdade que não é permitida aos jovens. Liberdade de tudo e em tudo.
O “envelhecer” me permite tanto! Sou muito mais livre hoje do que quando jovem. O “envelhecer” me provoca uma alegria imensa de viver. E o brilho do meu olhar é mais intenso a cada ano. E vou para a cama com a sensação gostosa de que o dia foi maravilhoso e de que amanhã será melhor ainda. E quando abraço meu travesseiro para dormir, agradeço a Deus pelo dia que tive. E peço que Ele me conceda mais alguns anos. Quem sabe mais de cem? Afinal, ainda quero curtir muito esta vida!
Quero andar de moto com meus netos, apresentar a eles a bossa-nova, o chorinho, o jazz, o blues. Quero que meus netos conheçam Led Zepellim, Rolling Stones, Beatles, The Doors. E Fred Astaire, Gene Kelly, Ginger Rogers, Judy Garland.
Quero poder contar como era o mundo no meu tempo, mostrar fotos de seus bisavós. Mas, acima de tudo, quero acompanhar o desenvolvimento mental e intelectual deles.
Quero ver meus netos envelhecendo.....

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